Nova Zelândia


Corre. Corre. Corre. Quer ter a certeza que o ar não é feito de papel. Acelera. Vê que as árvores quase terminam. Continua. Continua. Ignora a respiração a saltar-lhe do peito. Quer ter a certeza. Sabe que se aproxima, começa a apagar-se o caminho. Se for cenário. Se for cenário. Imagina o corpo contra a parede de cartão. De um azul a imitar o céu, um lago demasiado pintado, demasiado perfeito. Mais cinco passos. Guarda o fôlego. Dois, um. Fecha as mãos num resumo… E, de olhos abertos, cai no vazio.



Esvazia-se de si próprio. O sorriso sai-lhe pelos bolsos. A imaginação, o calor, o tempo. Tudo fora de si. Sente o espaço que se cria. O momento único do seu silêncio.

Vejo um ser enorme a andar na minha direcção. De pele a sobrar-lhe. Rugas encharcadas, como rios indecisos sobre a idade que têm.
- Estás surpreendida?
(Acho que sim)
- Por ver um velho correr para o precipício?
(Por estar do outro lado do mundo e tudo se passar ao contrário)
E por saber que um homem, para ter a certeza que não vive num lugar de brincar, corre até ao salto para não se sentir imortal.
Espero que a sua sombra se dilua nas montanhas.
… E começo a correr.

Texto e Fotografia: Clara Faria Piçarra

1 comentário:

Unknown disse...

Moça....em que lugar da nova zelandia é isso???