Ushuaia - Fin del Mundo


“Demoras a chegar. Demoras a partir. Esta demora dá-te tempo para pensar.”
Diz-me o Gabriel, um homem mais velho do que a idade, numa voz que não interrompe o silêncio. Estamos na cidade com mais silêncio do mundo.
À nossa frente apenas Sul. Pintado com cores de brincar. Parece-me água, mas pode não ser. É demasiado azul, demasiado.

(Torno a abrir a carta enquanto frase soltas, fragmentos, se misturam com recordações)
Assistimos à luta das árvores, a crescerem contra o vento, contra as entranhas vazias da terra. Não contra o Homem. Esse preocupa-se em lutar com a sua imensidão.
Estamos sentados no chão, protegidos por uma árvore diagonal. E esmaga-me o tamanho do céu.

(Recordo o frio…)

“Morreria sem esta força a puxar-me para Sul, sem a tranquilidade dura deste lugar.”
Fala-me com as mãos. Há vida em cada gesto simples que me oferece.

(Releio apenas as últimas linhas:
Ushuaia, 25 de Outubro de 2010
Gabriel)

Guardo de novo a carta no envelope. Regresso sempre, mas ainda me lembro da primeira vez que estive no fim do mundo. Quando pensava que a solidão estava só e que o fim não tinha continuação.
Texto e Fotografia: Clara Faria Piçarra

1 comentário:

Anónimo disse...

Clara parabéns pelo Blog...
É comovente