Argentina

(Cozinhamos ao jantar. Pomos a roupa a lavar regularmente. Vamos ao supermercado comprar pasta de dentes. Não queremos ver tudo num só dia… Começámos a viajar. Já não me sinto de férias. Pela primeira vez tenho consciência do que poderá ser um ano a viver assim, em deslocação. E se a deslocação é um lugar eu não queria estar noutro)

Mas… Argentina. Que era o que eu vinha aqui fazer!
Buenos Aires: sou eu. Respirei a cidade com essa surpresa, de me identificar em cada canto. Passo de mansinho para Iguaçu, para não ceder a tentações auto-biográficas.
Cataratas de Iguaçu: não cabem num rectângulo. Quando inventarem uma fotografia sem arestas talvez se consiga transmitir aquela imagem. Qualquer viagem (mesmo de 20 horas seguidas) é pequena comparada com aquela imensidão. O som. O som. Como se nos engolisse.
PATAGÓNIA:
Sobre a Patagónia lá terei que escrever um livro. (risos)
A primeira fotografia foi à nossa chegada, Península de Valdés. As baleias estavam a 15m da praia. Foi a altura em que mais temi por uma acção do Miguel. Observava a sua indecisão: entro ou não entro no mar? Entrou. Felizmente a água congelava e foi só até aos joelhos, porque aquelas meninas mediam entre 15 a 17 metros.
Quem me conhece sabe que só gosto de gatos e de sete cães (Maria, Fumaça, Arpão, Gaspar, Nata, Jose e Ulisses). Gosto mais ou menos de todos os outros animais e odeio de morte alguns… Até às Galápagos. Desarma qualquer um estar tão perto de animais impensáveis. Imaginava que só em África iria sentir algo igual… Até à Península de Valdés. Nada se compara à força de um salto de uma Baleia Austral, ao seu cantar, à suavidade com que brincam com o barco onde as pessoas (nós) se estendessem o braço lhes podiam tocar. Dificilmente vamos sentir algo parecido… E nem quero pensar que possa vir a dizer: Até à Austrália! Acho que os animaizinhos que por lá vivem não se resumem a cangurus.

A cidade seguinte foi só de passagem. Dormimos uma noite em Rio Gallegos e sobrevivemos. É tão linda como Alfragide. Com uma particularidade: foi o primeiro (desconfio que único) sítio em que agradecemos o peso da mochila. Aliás, podemos mesmo dizer que fomos os primeiros portugueses a serem salvos pela própria mochila. Não sabia que era possível o vento atingir aquela velocidade. Estivemos muito perto de atingir um sonho: voar. Quando conseguimos arrastar-nos até à paragem de um autocarro perguntámos:
- Esta tempestade vai continuar por muitos dias?
- Tempestade?
- Sim… mas… este vento costuma estar assim?
- Não. Estamos na Primavera. Costuma ser muito pior.

Comecei a perceber a Patagónia.

Todos os dias sinto que tudo o que temos vivido é demasiado para dividir apenas por dois. Gostávamos de actualizar o blogue mais regularmente. Não temos conseguido. Deixamos as Baleias falarem um bocadinho por nós e vamos viver mais Patagónia. Teremos muito para dizer.
Texto e Fotografia: Clara Faria Piçarra

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