Pura descrição, Equador


Hoje não escrevo, descrevo.
Às vezes canso-me. É normal, estou a viajar, nunca sei onde acordo no dia seguinte, o que vou comer, ver, absorver… E hoje estou cansada. Por isso não me vou isolar a escrever. Deixo os olhos em alvo e os pés longe do chão e venho para este cafezinho, a um canto de Quito, pura e simplesmente, descrever.

Relação Equador- Perú
- …mas és peruano? – pergunta o Miguel ao taxista pensando ter cometido uma gafe ao dizer que no Peru todos os carros são táxis.
- podes chamar-me gay, podes chamar-me ladrão, mas peruano … nunca!
(ficámos a saber)

Sem dinheiro nas Galápagos
Saber que se tem de pagar 100 dólares para entrar nas Galápagos é uma coisa, tê-los é outra completamente diferente.
- Podemos levantar dinheiro?
- Estamos numa base militar, não há multibancos.
- E podemos trocar Euros?
- Estamos numa base militar, não há casas de câmbio.
- E podemos pagar em Euros?
- Estamos numa base mi… Não.
Salvou-nos um Biólogo Galapaguenho que, achando pouco, ainda nos deu boleia e levou para sua casa.
(a vida é para os distraídos)

À deriva no Pacífico
Partiam de Santa Cruz duas embarcações para a Ilha Isabela às duas da tarde.
- As vossas mochilas são muito pesadas! Isto é uma lancha não um navio! – disse o único equatoriano antipático à face da terra.
- Está bem, então não vamos consigo. – o Miguel.
- Vá lá, pronto… entrem lá.
- Não, não queremos ir consigo. – a voz do vomidrine (moi meme)
E fomos para a outra lancha. Duas horas e meia depois pisávamos terra firme. A embarcação do senhor “simpático” perdeu o motor a meio do caminho. À deriva no Pacífico, sem luz, sem GPS, e com muitos vómitos e um grande susto depois lá chegaram já a manhã nascia.
(animais de sorte)

Lei seca
Chegámos das Galápagos. Sexta-feira à noite, a dormir no centro… perfeito para voltar a testar o nosso relacionamento com pessoas. Por que estão as ruas desertas? Por que não está ninguém nos bares? Por que se recusam a servir-nos vinho e cerveja?
- As eleições são domingo. Até segunda ao meio-dia não podemos vender nem consumir álcool.
- Mas nós não vamos votar!
- Se descobrirem que vos vendi vou preso quinze dias.
É obrigatório exercer um direito, no Equador. Quem não votar, além de ser preso quinze dias, não pode sair do país, inscrever-se na universidade, pedir um empréstimo… fica sem documentos. Para sempre. Até que uma futura lei os liberte.
(um tchim-tchim a Portugal)

Boletim de voto
Aaaaaaaaaaaaaaah… Claro que não se pode beber alcool. Claro que é obrigatório votar. Reparem bem na fotografia. É a nossa amiga Soledad com o seu boletim de voto! Frente e verso, meus amigos! Nada que demore mais de quinze, vinte minutinhos, se a lição estiver bem estudada.
(não, obrigada)

Não fomos à Selva, não subimos o Cotopaxi, não vimos os Lagos.
Estivemos no Paraíso da Evolução Darwiniana, conhecemos a respiração de Quito, a Soledad abriu-nos a porta de casa. Mostrou-nos como se vive no meio do mundo. (somos todos tão parecidos)
Texto e Fotografia: Clara Faria Piçarra

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